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quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

A incongruência da política: Dizem que Bolsonaro é autoritário mas faz governo democrático


O cientista polonês Adam Przeworski critica a ideia de que a democracia está morrendo e não aposta em colapso abrupto no Brasil.

Bolsonaro e Trump representantes da direita nas Américas / Foto divulgação / internet

PT é um partido socialdemocrata, com ranços autoritários não hegemônicos. Em quatro governos, o petismo tentou adotar pautas com o objetivo de concentrar poder e reduzir a força tanto do Ministério Público quanto da Imprensa. Entretanto, ante a resistência da sociedade civil e da sociedade política, os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff recuaram e não romperam com a democracia. Não houve nenhuma ruptura institucional. A direita radical equivoca-se quando afirma que o Partido dos Trabalhadores é comunista. Não é, nunca foi. Aproxima-se de um partido socialista — portanto, de esquerda —, mas não de matiz stalinista. E, sim, de caráter democrático.

Com o governo de Jair Bolsonaro, fala-se, mais uma vez, numa escalada autoritária. O discurso do presidente é autoritário, e de fato tentou aprovar medidas para reduzir a capacidade de sobreviver dos jornais, mas recuou. Quer dizer, ante a pressão da sociedade — e com as instituições funcionando —, Bolsonaro recua. Portanto, é possível falar num líder autoritário mas que faz um governo democrático.

Parte da imprensa não aprova Bolsonaro — e não surpreende que o jornalismo que cobre economia é mais favorável ao governo, porque o ministro da Economia, Paulo Guedes (um liberal híbrido; sim, porque liberal verdadeiro não aceitaria falar, em hipótese alguma, em AI-5. Ressalve-se que, no Chile, liberais ortodoxos apoiaram a ditadura cruenta de Augusto Pinochet) — e, por isso, está entrevistando pesquisadores de outros países, supostamente por serem independentes, que, mesmo com escassa informação do que realmente está ocorrendo no país, dão opiniões peremptórias e, às vezes, sem nuances. O que, claro, não faziam quando o PT estava no poder e, quando aqui e ali, tentava adotar medidas autoritárias e, inclusive, retiraram dinheiro do Erário brasileiro para “doar” à ditadura cubana e ao governo supostamente corrupto de Angola (fala-se da gestão de José Eduardo dos Santos).

Paulo Guedes e Bolsonaro / Foto divulgação 

Intelectuais do exterior costumam basear-se não exatamente na realidade local, em informações concentradas e cristalizadas — estribadas em dados —, e sim em informações que seus pares locais, com os quais têm conexões ideológicas, lhes repassam. Como o Brasil “precisa” de um “bandeirante” — talvez um “profeta” — e uma “bíblia” do exterior, dado o caráter provinciano de parte da imprensa (que ama dizer: “Deu na ‘The Economist’ ou deu no ‘New York Times’”). Fica-se com a impressão de que querem “puxar” 
Bolsonaro para a direita da direita da direita (um misto de reacionarismo político e fundamentalismo religioso) e, até inconscientemente, há uma torcida para que se torne mais autoritário do que é. Querem um golpe?

Num mundo conturbado — até perturbado —, com radicalismos que praticamente impedem a ponderação, o diálogo entre contrários, é crucial que direita e esquerda tenham viabilidade eleitoral — o que reduz a possibilidade de golpismo. Em 2018, por exemplo, a disputa eleitoral para presidente da República se deu entre a direita, com Jair Bolsonaro, e a esquerda, com Fernando Haddad (PT). Com espaço para chegar ao poder, as correntes radicalizadas da sociedade tendem a fazer opção pela democracia.

Na próxima eleição, em 2022 — daqui a dois anos e nove meses —, direita e esquerda certamente continuarão com alta viabilidade eleitoral. É possível que o centro apresente um candidato competitivo, mas será muito difícil expor uma ideia moderada e ser ouvido no meio de um confronto extremista e barulhento entre esquerdistas e direitistas. Se Bolsonaro for muito bem, com um reordenamento da economia — crescimento, mais empregos, aumento da renda dos indivíduos —, a tendência é que continue ocupando o espaço do centro na disputa contra a esquerda. A esquerda, se quiser derrotar Bolsonaro — que pode ter o ministro Sergio Moro como vice —, precisa atrair amplos setores do centro, como fez em 2002. Mas não será fácil. Um PT com Lula na linha de frente, com a imagem de presidiário — corrupto —afastará a classe média. Ou seja, se parte significativa de seu eleitorado está assentado na classe média, dificilmente o centro vai compor com o petismo. Pelo contrário, parte deve caminhar com Bolsonaro. A outra parte tende a bancar de um a dois candidatos — tipo João Doria, governador de São Paulo, e Luciano Huck, apresentador da TV Globo —, o que dividirá seus votos e pode repetir o cenário de 2018.

Professor Adam / Cecilia Bastos /Jornal da USP

Adam Przeworski 1940- ) é um professor de Ciência Política nascido na cidade de VarsóviaPolônia. Atualmente está vinculado ao Wilf Family Department of Politics da Universidade de Nova Iorque.










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